O 1º Romeiro da Peneda

"O TACHIM"

Mas que nome me havia de ocorrer. "Tachim". Será que se escreve mesmo assim? Acho que o que menos importa é saber se se escreve tachim, taxim, tá xim, etc. Parece-me chinês. Jogador de futebol não me parece. Um famoso artista de circo? Se calhar algum chefe de Estado dos ditos terceiros mundos ou provavelmente nome de telenovela. Algo me diz que se trata apenas de uma pessoa muito simples. Basta para tal chamar-lhe João Tachim ou simplesmente João da Cadela.
Um dos primeiros, senão o primeiro romeiro da Sra. da Peneda. Muitos dos leitores, conheceram certamente a pessoa em questão. Era sem dúvida aqui há já uns largos anos atrás, uma das figuras mais típicas da Romaria da Sra. da Peneda.
Por meados de Agosto, fincado à vara e a chamar a cadela, a panela e a cafeteira presos com um cordel à cinta a badalarem, era vê-lo subir o escadório do fundo do Portório a passar na Sra. das Dores até ao terreiro...estamos na romaria, chegou o Tachim...grita a cambada. Vamos acirrar a cadela. Ali começava o martírio do Tachim e a alegria dos putos. De um lado voavam as bolotas do cipreste, do outro a ameaça do pau. Era tudo brincadeira. Aparte estes pequenos "desacatos" com a criançada, era recebido pelas pessoas da aldeia com muito carinho.
Durante os dias que se seguiam até aos dias da festa, da pentilhota até à tapada grande, caminhava de porta em porta recebendo aqui uma bucha, ali uma tigela de caldo, além um copo de tinto, que irmãmente partilhava com a cadela. À noite, meadinha arriba, até à lapa (assim designado os aposentos de tão ilustre personagem) ali acendia o lume, um pouco de carne gorda dentro da panela, paus de giesteiro a servir de trempes, refastelava-se engrenhado nos trapos que eram os mesmos da romaria do ano passado, talvez de há dois anos...sabe-se lá, a olhar fitado os tissons. De quando em vez espetava o garavato na carne, agora trincava ele, ora lambia a cadela, come se fosse uma família. Não havia motivos entre eles para grandes desavenças. A única coisa em disputa seria a comida e mesmo esta era sabiamente dividida.
Assim se descreve a história do Romeiro mais popular que alguma vez passou pelas bandas da Nossa Sra. da Peneda. Não podia deixar de passar o meu testemunho de figura tão ilustre e que tantas saudades deixou naquela terra.

Artigo de Manuel Barros, publicado no jornal "O Ardina" de Monção em 1998.

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